Era uma terça-feira de chuva na cidade de São Paulo e apesar do anúncio feito quase em cima da hora, quando as portas se abriram as 18hrs, já haviam bastante metaleiros prontos para entrar no Fabrique Club, na zona oesta da capital paulista. Era hora de conferir o retorno aos palcos brasileiros de uma das maiores bandas de melodeath da história, os suecos do Hypocrisy. Organizado pela Tumba Productions, essa foi a segunda passagem da banda nos palcos brasileiros para divulgar o seu mais recente disco, o excelente Worship de 2021. Se em 2022 a banda ocupou o Audio, dessa vez o local escolhido foi o Fabrique, um pouco menor, mas que está se tornando um dos points da música extrema na capital dos paulistas.
Antes dos suecos entrarem para a apresentação única no país, duas bandas de aberturas, Siegrid Ingrid e Torture Squad tiveram a chance de mostrar seu trabalho, ambas já são veteranas e calejadas, e souberam tirar de letra os problemas de som que acabaram ocorrendo durante suas apresentações.
Os trabalhos começaram com os paulistanos do Siegrid Ingrid, que apesar de uma apresentação curta, provavelmente por conta dos problemas técnicos que atrasaram o início do show, foi de uma pancadaria extrema, o tempo todo. O vocalista Mauro Punk não para no palco, pulando, chutando e sempre com seu vozeirão já tradicional, foi um “show curto, simples e direto, por que o que importa aqui é som”, como disse Mauro.
Logo após, foi a vez de Mayara Puertas e o seu esquadrão de tortura, os também veteranos do Torture Squad, que não diferente de sua apresentação no SummerBreeze 2024 tocaram um setlist mais focado no seu álbum mais recente, o excelente Devillish de 2023. O guitarrista Rene Simionato executava os riffs explosivos em sua flying v vermelha, enquanto Mayara que além de cantar também toca teclado nas apresentações era responsável por invocar os demônios com sua poderosa voz e gritos sempre cuidadosamente executados. Como a própria fez questão de lembrar não era coincidência estarem ali, abrindo para o Hypocrisy já que ambas as bandas possuem várias músicas com temática de ufologia, e aproveitaram para emendar uma sequência com Area 51 e Abduction was the case. Apesar de algumas inconsistências no som, o Torture Squad fez um show preciso e excelente, como de costume para a banda.
Eram aproximadamente 21:30 quando o Hypocrisy finalmente subiu ao palco do Fabrique, enquanto os fãs que praticamente lotavam o local gritavam e mandavam os tradicionais chifres do metal. E já abriram com um petardo: Fractured Millenium do álbum Abducted de 2002. Problemas no volume do microfone de Peter Tägtgren a parte, o Hypocrisy mostrou ao que veio, brutalidade desde o início. Momentos antes da aguardada Eraser, o microfone de Peter ficou completamente mudo, ele foi até a mesa de som, e passado alguns seguidos mandou: “Let’s try that again, ERASER” (Vamos tentar novamente, ERASER). Se tem uma coisa que não se pode falar sobre o Hypocrisy é que a banda se abala fácil, pois apesar de qualquer problema no som, o que se viu no palco foi uma banda extremamente competente, confortável e distribuindo clássicos do melodeath sem qualquer dificuldade. Com o público na mão, cantando inclusive mais alto do que o próprio som do Fabrique, como no refrão já mencionada Eraser e também na recente Children of the Gray (a melhor faixa de Worship, na minha opinião) o show acabou virando um pequeno jogo de gato e rato, alternando entre faixas clássicas como o medley que encerrou com Penetralia, que fazia as rodas girarem com a violência necessária, e músicas mais recentes que faziam todo mundo cantar junto. Após uma pequena pausa para respirar a banda volta para o bis com apenas Roswell 47, encerrando assim um show que foi até mais curto do que a maioria de nós fãs gostaríamos, mas que mostrou com todas as letras e símbolos alienígenas porque o Hypocrisy é um dos maiores nomes da história do melodeath e porque o Peter Tägtgren é o ícone que é. Como diz a brincadeira: “para uma terça-feira de chuva….” foi ótimo.
Setlist Hypocrisy – Fabrique Club / SP (12/11/2024)
- Fractured Millennium
- Adjusting the Sun
- Eraser
- Pleasure of Molestation/Osculum Obscenum/Penetralia
- Don’t Judge Me
- Children of the Gray
- Inferior Devoties
- Fire in the Sky
- Until the End
- Impotent God
- Chemical Whore
- Warpath
- PAUSA
- Roswell 47